Tudo o que você precisa saber

Otimizando a gestão financeira da sua startup

gestao-financeira-startup

Quando o assunto é dinheiro, muitas pessoas já querem sair correndo. De fato, este tema não agrada a todos (as), mas, se tratando de negócios e principalmente de startups, falar sobre finanças e gestão financeira se torna extremamente necessário. 

Isso porque a estabilidade financeira está diretamente relacionada ao sucesso ou ao fracasso de qualquer startup, independentemente do grau de maturidade no qual ela se encontra. Dados obtidos na pesquisa “Why do Startups Fail: The top 20 reasons”, realizada pela CB Insights. revelam que a falta de dinheiro é a segunda maior causa de morte das startups.

Além disso, quase 30% dos executivos e executivas ouvidos(as) pela plataforma declararam ter dificuldade em saber como alocar o orçamento disponível de maneira correta. Líderes também disseram que, geralmente, a instabilidade financeira está relacionada a outros problemas como a falha em encontrar o product market fit (PMF) e a hora correta de pivotar o negócio.

Se, em condições favoráveis, controlar a gestão financeira de um negócio já é algo difícil de fazer, em um mundo VUCA a tarefa se torna ainda mais complexa. O acrônimo, que se tornou famoso no meio empresarial nos últimos anos, é uma abreviação para volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, e é uma forma resumida de dizer: “Lá fora está uma loucura!”.

Até mesmo esse conceito parece já estar ficando ultrapassado tamanha a velocidade. No ano passado, o antropólogo e futurista estadunidense Jamais Cascio criou um novo termo para identificar a sociedade atual, denominado BANI. Em português, a sigla pode ser traduzida como frágil, ansioso, não linear e incompreensível.

Seja VUCA ou BANI, a verdade é que o mundo está em constante transformação. Isso quer dizer que é impossível se preparar para ele? Não, pelo contrário! Este cenário exige dos fundadores e fundadoras um planejamento ainda mais elaborado, com abordagens específicas para cada tipo de situação. Nesse sentido,  a estratégia utilizada terá impacto direto na sobrevivência — ou não — do seu negócio.

Nesta etapa de auto check-up da Startup Doctor, ajudaremos você a avaliar se a sua startup está estruturada para pagar as contas e escalar, abordando pontos importantíssimos para obter uma boa gestão financeira. Leia abaixo.

Como garantir estabilidade na gestão financeira da sua startup

Como diria Paul Graham, um dos três fatores chaves para que uma startup seja bem sucedida é gastar a menor quantidade possível de dinheiro — sem perder a qualidade do serviço ou produto entregue, é claro. Para isso, existem algumas estratégias que podem ser trabalhadas, mas abordaremos apenas as quatro principais. São elas:

1 – Garanta uma boa Receita Recorrente Mensal

A Receita Recorrente Mensal, mais conhecida pela sigla MRR, do inglês Montly Recurring Revenue, é uma métrica utilizada por startups de diversos segmentos, principalmente pelas que possuem um modelo de negócio baseado em assinaturas ou planos. 

Por meio da MRR, é possível calcular a média de faturamento de planos durante um determinado período e, dessa forma, realizar uma projeção de ganho. A métrica também auxilia na avaliação do crescimento da receita recorrente mensal, medindo a entrada, a renovação e o cancelamento de inscrições. Pode-se dizer, então, que a manutenção da estabilidade financeira mensal do negócio está diretamente ligada à satisfação do cliente.

Como obter a MRR? Basta calcular o número de clientes vezes o valor médio pago pelo serviço. Por exemplo, se a sua startup conta com 200 clientes que pagam R$50 por mês, a sua MRR será de R$ 10 mil. Caso você queira calcular a receita recorrente anual, é só multiplicar o resultado da MRR por 12. 

MRR = quantidade de clientes * valor pago / mês

A MRR é um dos indicadores mais importantes para as startups que têm a assinatura como modelo de negócio, pois permite a integração entre as áreas financeira e estratégica, além de possibilitar a otimização de recursos.

2 – Acompanhe o faturamento de perto

Parece óbvio, mas nem sempre ele  é feito da maneira correta. Isso porque, para muitos, o faturamento é compreendido como o lucro total do negócio, porém o indicador vai além.

Vamos começar, então, explicando a diferença entre faturamento e lucro. De maneira resumida, o faturamento é a soma das vendas — à vista e a prazo — que foram realizadas durante um período específico. Já o lucro, é esse mesmo valor, menos todos os custos que a empresa tem com manutenção, salários, impostos, pagamento de fornecedores, entre outras despesas. Se o resultado for negativo, a startup estará no prejuízo. Geralmente, ambas variáveis são controladas mês a mês.

Diferenciar os conceitos  é fundamental para uma boa gestão de negócio, porque os impostos cobrados pelo Governo são calculados com base no faturamento da empresa.

Acompanhar o faturamento de perto é fundamental, pois permite ao gestor(a) identificar em quais períodos há aumento ou queda nas vendas e determinar, assim, a produção de determinado produto ou serviço. A partir dessa informação, é possível identificar também a preferência dos clientes e criar estratégias para ampliar as vendas de produtos/serviços com pouca margem ou mesmo optar por descontinuá-los.

3 – Crie uma boa reserva na sua gestão financeira

A estabilidade de um negócio — ainda mais tratando-se de startups —  está sujeita a pressão de diversos fatores externos como crises econômicas, falta de investimento, perda significativa de clientes, dentre outras.

Conforme mostra a pesquisa da CB Insights mencionada anteriormente, 29% das startups quebram por falta de dinheiro. Portanto, criar uma boa reserva financeira é essencial para obter sucesso.

Vale lembrar que a reserva financeira não é a mesma coisa que o capital de giro (popularmente chamado de “caixa”). Ter capital de giro é ter dinheiro para quitar despesas e dívidas de curto prazo sem necessitar de financiamento.  A reserva financeira, por sua vez, é um montante destinado para lidar com possíveis imprevistos, como quebra de equipamentos, baixa nas vendas e demissões.

Não existe um valor exato para juntar, pois cada startup possui uma realidade diferente. O ideal é que você tenha uma quantia disponível referente a 12 meses de operação. Se o seu gasto mensal é de R$ 20 mil a sua reserva financeira deverá ser de R$ 240 mil.

Parte da estratégia de criar uma reserva consiste em saber qual é o seu runway. Em outras palavras, por quanto tempo a sua startup pode operar até a necessidade de entrada de novos recursos. Quanto maior o runway, mais tempo você tem para atingir os próximos milestones no processo de expansão e escala do seu negócio.

Nem sempre é fácil fazer essa previsão, principalmente quando a startup se encontra em um estágio inicial. Segundo especialistas, a maioria dos fundadores(as) se preparam para um runway de 18 meses.

Antes de definir o seu runway, você precisa descobrir qual é o seu burn rate, ou seja, a taxa de velocidade com que você usa o seu capital para bancar a operação do negócio. É uma maneira de medir o fluxo de caixa negativo. Existem dois tipos de burn rate:

  • Burn rate bruto: valor total gasto por mês (salários, aluguel, equipamentos);
  • Net burn ou burn rate líquido: valor perdido durante o mês em comparação à receita gerada. Para calculá-lo, basta subtrair os custos e as despesas da receita.
  • NET BURN RATE = BURN RATE BRUTO – RECEITA.

Se o resultado for acima de zero, a sua empresa é geradora de caixa. A maioria das startups consideram o burn rate líquido por proporcionar maior precisão.

Agora que você já sabe qual é o seu burn rate, você pode seguir para o próximo passo, definir o seu runway. Há duas formas de calculá-lo, depende se a sua startup está gerando receita ou não. 

Opção #1: Gerando caixa
RUNWAY = DINHEIRO DISPONÍVEL EM CAIXA / NET BURN RATE
Opção #2: Sem geração de caixa
RUNWAY = DINHEIRO DISPONÍVEL EM CAIXA / BURN RATE BRUTO

Em ambas situações, o resultado obtido dirá quantos meses a sua startup suporta até que ela precise de mais investimento. De nada adianta você ter um produto, um time e clientes, se você não puder sustentar a sua operação.

4 – Calcule o valor do seu produto

Na hora de criar uma startup, muitos empreendedores e empreendedoras sentem dificuldade em calcular o valor correto dos seus produtos. Isso porque o preço definido tem impacto direto no desempenho do negócio.

Valores baixos ou superfaturados podem significar uma receita menor, perda de clientes e até mesmo levar à falência. Inclusive, a precificação é a causa da morte de 18% das startups. Portanto, a adoção de uma estratégia eficaz de precificação é fundamental para que você aumente o seu lucro, gere maior satisfação, retenha mais clientes e, principalmente, sobreviva.

O primeiro passo é avaliar tudo o que envolve a operação do seu negócio, afinal, o valor do seu produto precisa cobrir as despesas de operação. Outra dica é pesquisar o preço praticado pelos seus concorrentes e a percepção de valor dos clientes.

Algumas empresas utilizam o markup para determinar o valor final de venda. O índice consiste em somar uma margem de lucro em cima do preço unitário do produto ou serviço, levando em conta as despesas de operação.

Vale lembrar que o valor de um produto é influenciado por diversos fatores externos como questões econômicas, contextos políticos, escassez de matéria prima e comportamento de clientes. Sendo assim, a precificação deve ser reavaliada inúmeras vezes ao longo da vida de uma startup, a fim de encontrar o equilíbrio entre um valor que cubra as despesas de operação e que seja atraente para os usuários. 

Analisando as estratégias apresentadas acima, você acredita que a sua startup passaria no check-up de saúde da sua gestão financeira?